sábado, 9 de julho de 2011

BONS ENCONTROS: A POESIA DE PEDRO TIERRA



O capuz
Cá está o capuz sobre a grade.
Traz consigo uma segura
promessa de dor. Na boca
do sentinela um meio riso.
Cá está uma parcela da noite
cobrindo meu rosto.
A mão de meu inimigo
determina  o caminho.
Pelos corredores aprendi
o jeito inseguro dos cegos.
As mãos tateando a parede.
Sob os pés a escada imprevista,
o degrau a mais, a queda,
o riso dos soldados,
o gesto perdido buscando
uma porta que não houve.
O passar dos dias
e as cicatrizes no corpo
ensinaram-me esse caminho.
Nos dedos guardei as arestas,
o ferro das portas,
o fio dos dínamos.
No dorso a marca
desses dias de sombra.
O capuz repete a dor
no corpo de cada combatente,
uma dor mercenária
recrutada a serviço da noite.



















As mãos atadas
No hora do grito
é difícil perceber algo
no rosto dos perseguidos.
Alguns ganham a cor dos homens aflitos,
Outros, um cansaço de mil anos, ou ainda,
a maneira triste dos homens capazes de morte.
Taciturnos depois da noite de suplício.
Era voz de mulher
mas nenhum de nós lhe viu o rosto.
Não é preciso dizer nada
e guardo meus pensamentos:
(contra os golpes do carrasco
restou apenas
a força de minha crença.
Essa foi minha arma,
essa terá sido a sua.
Será a do último
torturado desta guerra.)

















Se algum dia tiveres
de enfrentar essa batalha
não contes com a morte rápida.
Não te espantes de estar vivo
depois do primeiro dia.
Foi apenas o primeiro dia.
Sobretudo não contes
com o gesto humano,
nas mãos de teu carrasco.
Não procures aqui
um gesto que se perdeu
na rua dos oprimidos.
Entre as mãos caladas do torneiro
regressando ao subúrbio,
talvez encontres um gesto humano.













tortura nunca mais...



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