domingo, 27 de junho de 2010

Razões de ser do Brasil Livre, parte II

Bem, ai tivemos toda aquela história das rebeliões estudantis, das passeatas, do que ocorreu a partir dos sessenta e oito, do AI-5, fechamento do Congresso, da luta armada, da extinção de partidos, do PMDB de verdade, que não é mais aquela sigla dos que compunham a frente popular, das torturas, dos presos políticos e dos desaparecidos. Bombas no Rio Centro e em bancas de jornal, revelava o desespero dos extremistas....


No final, quando já estávamos no derradeiro caminho da democracia, fui com meu pai para Brasília. Fomos para o apartamento de Virgildasio Sena, onde ficamos hospedados. Já havíamos nos hospedado no apartamento de Chico Pinto, em épocas diferentes. Brasília é a capital que guardo maior identidade, depois do Rio de Janeiro.
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Nossa ida à Brasília tinha a ver com a nova Constituição do Brasil, a ser promulgada por Ulysses Guimarães. Só não sabia que iria ser presenteado e homenageado por meu pai e Virgildasio Sena. Eles me proporcionaram a honra de assistir, dentro do Congresso Nacional, a promulgação da nova constituição do Brasil.


Tinha que ter um traje todo escuro como recomendava o cerimonial. Como não possuía, saímos para comprar a roupa. Compramos tudo e só esquecemos do sapato, que não era preto, mas camurçado, meio alaranjado, tipicamente nordestino. Não tinha jeito, só tinha mesmo aquele sapato, única nota distoante e que poderia me atrapalhar. Dia seguinte, na hora marcada, me vesti e saímos os três no mesmo táxi, rumo ao Congresso Nacional


Até chegarmos ao congresso passamos por diversas barreiras. Meu passaporte era uma insígnia de deputado estadual na lapela do paletó. Os soldados viam e mandavam passar.


Até que chegamos ao meu destino, foram várias barreiras. Finalmente chegamos ao ponto em que nos separaríamos. Eles, sim, eram deputados de verdade.


Eu estava orientado, mas não conhecia nada dos anexos. Desci, fui em direção ao anexo. Passei tranquilo pela barreira. Fui em direção ao elevador. Era tudo muito intuitivo. Ao chegar no local dos elevadores vi Lídice da Mata, deputada, com o marido, e fiz de conta que não os tinha visto. Ainda tinha um pouco daquele personagem do Henfil, chamado de Ubaldo. Não sei, poderiam atrapalhar com perguntas.


O "meu" elevador chegou. Estava tão apressado que não reparei que o mesmo estava subindo. Ao invés de descer, subia. Parava, subia. A volta foi do mesmo modo. Sempre havia alguém precisando usar o elevador.  Isso me angustiava e impacientava, mas não podia demonstrar. Precisava descer para pegar a esteira rolante, subterrânea, que me conduziria até o congresso.


Tudo era incrível: eu estava passando por baixo da avenida, por baixo da terra, através de uma arquitetura subterrânea fantástica e engenhosa, até chegar ao Congresso Nacional. Me senti mais aliviado.


Perto do final vi meu pai e Chico Pinto conversando. Eu procedia de modo engraçado. Fingia que não estava vendo os conhecidos. Meu pai veio ao meu encontro pra saber o que tinha acontecido comigo, afinal demorei e ele estava preocupado. Falei do elevador que me atrasou. Recebi novas orientações e, mesmo assim, estava um pouco perdido.Na verdade eu não imaginava que fosse ser auxiliado. Imaginava que tudo correria por minha própria conta.


Sai andando, com meu sapato destoante, quando fui abraçado, com empolgação, por uma personalidade interessante, que sorria enquanto me orientava. Inteligente me fez parecer íntimo dele e eu ainda estava meio embaraçado. Recebi nova orientação. A primeira de todas era pra sorrir, afinal éramos amigos. Depois fui conduzido, com o ar alegre e feliz,  batendo papo com meu anfitrião, até um determinado ponto.


O companheiro me deu as últimas instruções: "agora é fácil e você sozinho, só restam duas barreiras a vencer. Siga tranquilo. Após vencida a segunda barreira, você subirá uma escada e pronto". Despedimo-nos e cada um seguiu seu destino. Nunca mais o vi. Gostaria de revê-lo! Ele surgiu do nada e foi tão importante pra mim...


Estas duas últimas barreiras foram as mais difíceis Na última eu sentia um certo nervosismo, que tentei disfarçar olhando um daqueles homens de paletó, com cara de agente secreto, e indaguei:" estes livros estão sendo distribuídos?" e ele respondeu que sim. Falei com ar de autoridade. Apanhei o meu exemplar, da nova constituição, chamada de cidadã, e continuei o caminho. Dito e certo cheguei a tal escada e pronto. Estava no cume da glória, presenciando um momento histórico.


Dai em diante era relaxar e assistir o meu Brasil Livre ir virarando o jogo. Éramos nós que estávamos dando as cartas, novamente, mas era apenas o começo de um novo caminhar.


Era um sonho para o qual muita gente havia contribuído, inclusive com a própria vida, e eu sabia o quanto aquele momento era importante pra mim. Sabia do significado do ato.


Ainda não estávamos totalmente livres, mas estávamos saindo daquele sufoco e derrotando um monstro. A sensação de participar da história, de contribuir para o avanço dela, nos dá sentido à existência.


Sei que nessa minha incurssão, como penetra, tudo funcionou perfeitamente bem e agradeço a todos por terem me dado este enorme presente.


Eu não era nada, muito menos deputado, mas estava lá dentro, vendo e ouvindo tudo ao vivo e a cores. Escutava os seguranças procurando o "beijoqueiro" que, segundo eles, haviam penetrado no Congresso. Senti-me como se eu fosse o próprio "beijoqueiro" e estava tão próximo dos alertados seguranças..


Se me pegassem? Isto seria chato pra todo o esquema de segurança do Congresso. Uma desmoralização. Então compreendi que, uma vez ali dentro,  não poderiam fazer mais nada comigo.


Pude observar que o ministro da aeronáutica não estava sentado junto aos seus colegas de armas. O ministro do Exército e o da Marinha ficaram longe, à direita dele.Curioso é que diziam que o ministro da aeronaútica .tinha inclinação de esquerda. Isso é rídiculo, mas a paranóia era tamanha que tudo era crível.


Quando Ulysses falou dos facínoras que mataram  Rubens Paiva, notei que os dois ministros militares se entreolharam insatisfeitos. Foi o momento mais impactante do discurso.


Avançamos, passamos por vários presidentes. Tivemos dois Fernandos, que infelicitaram a Nação, com idéias de um PSDB caduco e desvairado, com manias de grandeza e muito gosto por privatizações. Pareciam estar vendendo o Brasil em nome do "mercado livre".


Vencemos, finalmente. Tudo vem dando certo e resolvi criar este blog com o título do meu sonho, agora realizado, com maior plenitude, no governo Lula, que será sucedido por Dilma Rousseff, que é o de um BRASIL LIVRE. Hoje é assim que vejo o Brasil. Respiramos democracia. Atacam o presidente e ele segue o rumo dele sem perseguir ninguém, procedendo de modo contrário dos seus antecessores, que perseguiam.


Dilma vencerá e será uma grande conquista, pois será a primeira mulher a governar uma Nação, internacionalmente reconhecida, sem aqueles estigmas, de outrora, que nos deixava com o complexo de inferioridade por sabermos que éramos um país subdesenvolvido. Hoje somos o Brasil Livre e que Deus nos conserve assim, neste rumo, pois tudo está dando certo nesse Brasil Livre

Um comentário:

Anônimo disse...

Passei aqui por um acaso e acabei lendo a "razão de ser" do blog e compreendi que o mesmo tem a ver com a sua vida, em boa parte, sem poder respirar a liberdade e a democracia.A ditadura foi uma tragédia para a juventude brasileira. Felizmente passou e vivemos noutros tempos. Gostei do conteúdo. Êxito é o que desejo ao Blog Brasil Livre.
Nestor

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