sábado, 25 de junho de 2011

Caio Fernando Abreu


Caio Fernando Abreu


Nunca falei sobre você a ninguém. Nem vou falar. Não falaria de você nem a você mesmo.


Não suportamos aquilo ou aqueles que poderiam nos tornar mais felizes e menos sós.


Ninguém enche o saco de ninguém, você me deixa em paz, eu te deixo em paz – certo?


Tinha terminado, então. Porque a gente, alguma coisa dentro da gente, sempre sabe exatamente quando termina.


Eu disse que sim, claro que sim, muitas vezes que sim.


Gosto de pessoas doces, gosto de situações claras; e por tudo isso, ando cada vez mais só.


O que vai sendo vivido e sentido por cada um é tão particular que, mesmo incomum ou já cantado em prosa e verso, é para sempre também único.


Penso sempre que um dia a gente vai se encontrar de novo,e que então tudo vai ser mais claro, que não vai mais haver medo nem coisas falsas.


Enfrento, e reconstituo os pedaços, a gente enfeita o cotidiano - tudo se ajeita.


E a vida acontecendo em volta, escrota e nua.


O pó se acumula todos os dias sobre as emoções.


Só que as más vibrações desta cidade, God! Nem todo o sal grosso, nem toda a arruda do mundo dariam jeito.


Hoje estou com uma moleza por dentro, uma coisa que não sei bem explicar como é, parece um imenso tapete de algodão embranquecendo tudo.


Que se possa sonhar, isso é que conta, com mãos dadas e suspiros.


Coisas belas, coisas feias: o bom é que passam, passam, passam. Deixa passar.


Tenho aprendido coisas que ainda estão vagas dentro de mim, mal comecei a elaborá-las. São coisas mais adultas, acho. Tem sido bom.


Acontece que, com ou sem cama, gosto profundamente de você.


Ela é intensa e tem mania de sentir por completo, de amar por completo e de ser por completo. Dentro dela tem um coração bobo.


Tem dias que eu visto minha fantasia de otária.


Se amanhã o que eu sonhei não for bem aquilo, eu tiro um arco-íris da cartola. E refaço. Pinto e bordo.
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