terça-feira, 22 de março de 2011

Cecília Meireles




A bailarina
                          
Esta menina
tão pequenina
quer ser bailarina.
Não conhece nem dó  nem ré
mas sabe ficar na ponta do pé
+Não conhece nem mi nem fá
Mas inclina o corpo para cá e para lá.
– Não conhece nem lá nem si,
mas fecha os olhos e sorri.
-Roda, roda, roda, com os bracinhos no ar 
e não fica tonta nem sai do lugar.
-Põe no cabelo uma estrela e um véu
e diz que caiu do céu.
-Esta menina
tão pequenina 
quer ser bailarina.
-Mas depois esquece todas as danças,
e também quer dormir como as outras crianças.

Poeta Thiago de Mello


Toada de Ternura - Thiago de Mello



Thiago de Mello 

TOADA DE TERNURA 

Meu companheiro menino,
perante o azul do teu dia,
trago sagradas primícias
de um reino que vai se erguer
de claridão e alegria.

É um reino que estava perto,
de repente ficou longe:
não faz mal, vamos andando
porque lá é o nosso lugar.

Vamos remando, Leonardo,
poque é preciso chegar.
Teu remo ferindo a noite,
vai construindo a manhã.
Na proa do teu navio
chegaremos pelo mar.

Talvez cheguemos por terra,
na poeira do caminhão,
um doce rastro varando
as fomes da escuridão.
Não faz mal se vais dormindo,
porque teu sono é canção.

Vamos andando, Leonardo.
Tu vais de estrela na mão,
tu vais levando o pendão.
Tu vais plantando ternuras
na madrugada do chão.

Meu companheiro menino,
neste reino serás homem,
como o teu pai sabe ser.
Mas leva contigo a infância,
como uma rosa de flama
ardendo no coração:
porque é de infância, Leonardo,
que o mundo tem precisão. 


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